quarta-feira, setembro 11, 2013

Outro post muito atrasado - O D. já fez 4 anos

Meu Deus, será possível?
quatro, q-u-a-t-r-o anos.
Meu querido menino "grande", guardo na memoria e no coração a forma tranquila com que vieste ao mundo. Um parto sem dor, sem gritos, sem epidual, sem pontos, muito rápido (nunca na vida imaginei que tal coisa fosse possível)
Sabes, meu amor, não chorei quando te vi. Em vez disso fiquei com um sorriso do tamanho do mundo que não me saia da cara por nada. Eras tão pequenino, os teus olhos rasgados, os dedos compridos e o teu cabelinho tão penteadinho. Tão bonito. Lembro-me de, já na efermaria com mais 6 mamãs e seu bebés, olhar para todos e pensar para mim "O meu filho é o mais bonito de todos" (sim, olhos de mãe são olhos de mãe)
Passei muito tempo da tua existência (ainda pequena) aparvalhada com a tua beleza. Como podia eu ter gerado uma criatura ser assim...

Queres ser crescido, queres ser autónomo, mas por vezes ainda pedes ajuda para coisas mais básicas só porque te sabe melhor assim. Ainda não aprendeste a lidar com o mano, ainda há muitos ciúmes, mas estás a melhorar e já consegues brincar com ele.
A tua tia P. diz que és a criança mas responsável que conhece (isto porque te levou à praia mas esqueceu-se do protector solar e tu, como te viste sem creme, meteste-te debaixo do chapeú de sol e só saíste quando eu cheguei com o creme.)
O teu amor pelo avô Z.M. é um amor-paixão. E o amor dele por ti é igual.

Continuas uma criança calma, dorminhoca e muito teimosa.

És o meu menino grande, mas serás sempre o meu bebé.

Amo-te muito meu menino grande

terça-feira, setembro 10, 2013

Falta-me a coragem para falar disto.(Post tão atrasado...)

Estavas tão bem, quer dizer, desde novembro que estavas mais fraca, mas caramba, tinhas 88 anos. Com essa idade, ter a tua cabeça e a tua genica, é um luxo, um verdadeiro luxo.

Naquele domingo, a ultima vez que estiveste em casa, a minha mãe ligou.me, disse que estavas a vomitar sangue. O meu coração ficou tão apertadinho... quando a minha avó R. vomitou sangue, foi no dia antes de morrer... as memórias, as memórias. Seguiste para o hospital. Em novembro, quando lá estiveste eu liguei ao tio e disse para não te deixarem lá, (afinal eu tenho 35 anos e nunca te tinha visto no hospital) não queria, porque se aproximava o fds e já sabemos que ao fds é quando morrem mais pessoas no hospital. Tive medo. Mas mesmo com o meu pedido, tu ficaste no hospital e melhoraste. Estavas fina! Afinal tinhas falta de potássio no sangue. A idade não perdoa e o teu corpo começou a produzi-lo menos do que devia. Uma semana lá e ficaste boa! Vieste para casa, mas já não conseguias fazer o que estavas habituda, e isso deu-te cabo nos nervos.... não conseguir fazer o almoço e o jantar, não conseguir passar a ferro, não controlar as depesas da casa, tudo isto deu-te volta à cabeça. Mas cá andavas.
Em Maio, no primeiro aniversário do P., só me perguntavas "O que é que precisas que eu faça", "não preciso de nada" dizia eu, mas tu querias e lá fizeste as gelatinas e o bolo de bolacha que é uma especialidade tua. Aos 88 anos ainda fazias isto tudo.
Mas naquela semana em que foste internada tudo mudou...quando finalmente saiste do SO para a enfemaria, pensavamos que estavas novamente fora de "perigo", mas não. Não falavas. Como não falavas? se tu eras uma faladora nata e com graça em tudo o que dizias.
Eu confesso, apesar de teres 88 anos eu não estava preparada para te ver assim. Foi duro.
Foi uma semana muito dura, na semana em que comemoro o dia mais feliz na minha vida, o nascimento do D., o teu primeiro bisneto, tu estavas assim.
Fui todos os dias daquela semana ao hospital, (até na sexta-feira, quando já não estavas na enfermaria, mas na morgue) e todos esses dias ao depedir-me com um beijo na testa te dizia ao ouvido "gosto muito de ti".
O D. fez quatro anos, e teve uma festinha na escola. Não havia espirito para mais, afinal tu não estavas lá em casa para comemorar connosco.
E no dia imediatamente a seguir ao aniversário do D., o telefone tocou e tinha o teu nome escrito. tremi, meu Deus o que eu tremi. Eu sabia que não podias ser tu do outro lado. (Nunca mais vais ser tu do outro lado)
E não eras... era o hospital que queria falar connosco.
E pronto, desde este tefonema até te estar a ver deitada numa maca na morgue foi um instante. Estavas quente, como se estivesses viva, serena, e eu que pensava que os mortos estavam sempre gelados.

Despedi-me de ti, mas desta vez sussurei-te ao ouvido "avó, faz uma boa viagem e vai devagarinho" e esta frase não me sai da cabeça. Será que fiz bem em perdir-te para ires devagarinho? Eu nem sei porque te pedi isso, tu andavas sempre devagarinho e com bengala, talvez por isso...
Querida avó, esqueçe a parte do devagarinho, mas faz uma boa viagem e lá em cima, espero que juntes à minha outra avó que também amo tanto e que tantas saudades tenho, e que as duas iluminem o nosso caminho. Que sejam os nossos anjos da guarda.

Um beijo daqui até aí querida avó!