quinta-feira, maio 18, 2006

A

R. é a irmã do meio de 5 irmãs. (teve mais 2 irmãos homens, mas morreram ainda muito pequenos)
Aos 5 anos de idade, a R. ficou sem pai e sem mãe. Ela e as irmãs ficaram sós naquele Mundo que lhe parecia enorme.
Decidiram abandonar aquela terra que já lhes tinha roubado pai, mãe e os únicos irmãos homens. As mais velhas teriam de procurar trabalho e tomar conta das mais novas.
Assim foi, a irmã mais velha ficou com a R. e com a irmã mais nova. A irmã nº2 ficou com a irmã nº4. Separaram-se! Teve mesmo de ser!
As irmãs foram crescendo...
A R. nunca foi à escola e teve de começar a trabalhar bem cedo.
Aos 16 anos a R. conheceu o J. e apaixonaram-se.
O J. era filho único de uma família com algumas posses.
Muito bem tratado, com uma mãe muito culta.
O namoro de R. e J. não foi bem aceite pela mãe do J.
Mas contra a vontade da mãe, o J. continuou a namorar com a R.. Iam passear, iam a festas, dançavam e o J. recitava poemas de sua autoria à janela de R.
Alguns anos mais tarde, casaram.
A R. não vestiu nenhum fato branco nem entrou numa igreja ao som da marcha nupcial. A R. estreou o seu 1º vestido, um saia e casaco creme e tinha um pequeno ramo de flores na mão, apanhado de manhã no jardim de casa de sua irmã. O casamento, realizou-se ali mesmo em casa da irmã, na presença dos pais do J. e das irmãs de R.
Os primeiros tempos de casamento foram felizes, nasceram os filhos, 1º o C. e 3 anos mais tarde o J. Cresceram felizes.
O J. montou o seu próprio negócio e os filhos, quando deixaram de querer estudar juntaram-se a ele.
Quando fez 20 anos o C. filho mais velho de R. morreu.
Mais uma vez, a vida roubou alguém a R., mas desta vez a dor era muito maior. A dor de perder um filho era enorme e R. julgou que não ia aguentar.
A R. perdeu o sorriso e a alegria.
Dois anos depois, o único filho que lhe restava, presenteou-a com uma neta. Neta essa, que a ajudou a sair do sofrimento em que se encontrava.
Hoje passados mais de 30 anos, a R. ainda sofre (muito) com a perda do filho.
Hoje, passados mais de 30 anos a R. ainda não frequenta casamentos, baptizados ou festas.
Hoje, passado mais de 30 anos a R. ainda não sorri verdadeiramente.
Hoje, passados mais de 30 anos, começou finalmente a acompanhar J. nas viagens que este tanto gosta de fazer.

Eu acho que, secretamente ela anseia que um dia, esse filho que a vida lhe roubou antes de tempo, lhe dê a mão e a leve consigo.

Mas enquanto isso não acontece, a R. não vive, sobrevive.

Parabéns Avó.

[Eu desejo dar-te os parabéns, por muitos e muitos anos. Porque porque és muito importante para mim. Quem sabe, se eu não terei uma parte do meu tio dentro de mim? tal como tu dizes, eu sou muito paracida com ele... mas eu acho que sou parecida é contigo, herdei a tua calma e serinidade, o amor pelos animais e até o ar triste.
Foste e és um dos meus pilares e quero-te ainda, durante muito tempo a meu lado. Fazes-me muita falta. Amo-te muito]

6 comentários:

Flores disse...

Tão bonito. Ela é, apesar de tudo, uma felizarda por te ter.

SONHADOR disse...

Adorei a história.
Que a tua avó tenha um dia lindo e que cá esteja muitos anos para poder ver-te feliz, neste dia.

Um beijo especial às duas.

tulipa_negra disse...

apesar da tragédia, da dor e do sofrimento, não posso deixar de dizer que é uma história bonita. Tens sorte por ter uma avó assim. Parabéns a ela e a ti também!

Gambozina disse...

Que tenham as duas um (muitos) dia fantástico.

Gi disse...

Muitos parabéns para a tua avó.
Apesar de não conhecer a história na totalidade, enquanto lia, pensa que seria a tua avó.
De facto, nem sempre a vida corre como desejamos, mas temos de tentar continuar a viver, por muito que isso nos custe, porque os que ficam também precisam de nós.

nspfa disse...

Achei a história tão comovente que fiquei a desejar muito sinceramente que a tua avó viva todos os anos que lhe pedes.

Os meus parabens pa ela