terça-feira, setembro 10, 2013

Falta-me a coragem para falar disto.(Post tão atrasado...)

Estavas tão bem, quer dizer, desde novembro que estavas mais fraca, mas caramba, tinhas 88 anos. Com essa idade, ter a tua cabeça e a tua genica, é um luxo, um verdadeiro luxo.

Naquele domingo, a ultima vez que estiveste em casa, a minha mãe ligou.me, disse que estavas a vomitar sangue. O meu coração ficou tão apertadinho... quando a minha avó R. vomitou sangue, foi no dia antes de morrer... as memórias, as memórias. Seguiste para o hospital. Em novembro, quando lá estiveste eu liguei ao tio e disse para não te deixarem lá, (afinal eu tenho 35 anos e nunca te tinha visto no hospital) não queria, porque se aproximava o fds e já sabemos que ao fds é quando morrem mais pessoas no hospital. Tive medo. Mas mesmo com o meu pedido, tu ficaste no hospital e melhoraste. Estavas fina! Afinal tinhas falta de potássio no sangue. A idade não perdoa e o teu corpo começou a produzi-lo menos do que devia. Uma semana lá e ficaste boa! Vieste para casa, mas já não conseguias fazer o que estavas habituda, e isso deu-te cabo nos nervos.... não conseguir fazer o almoço e o jantar, não conseguir passar a ferro, não controlar as depesas da casa, tudo isto deu-te volta à cabeça. Mas cá andavas.
Em Maio, no primeiro aniversário do P., só me perguntavas "O que é que precisas que eu faça", "não preciso de nada" dizia eu, mas tu querias e lá fizeste as gelatinas e o bolo de bolacha que é uma especialidade tua. Aos 88 anos ainda fazias isto tudo.
Mas naquela semana em que foste internada tudo mudou...quando finalmente saiste do SO para a enfemaria, pensavamos que estavas novamente fora de "perigo", mas não. Não falavas. Como não falavas? se tu eras uma faladora nata e com graça em tudo o que dizias.
Eu confesso, apesar de teres 88 anos eu não estava preparada para te ver assim. Foi duro.
Foi uma semana muito dura, na semana em que comemoro o dia mais feliz na minha vida, o nascimento do D., o teu primeiro bisneto, tu estavas assim.
Fui todos os dias daquela semana ao hospital, (até na sexta-feira, quando já não estavas na enfermaria, mas na morgue) e todos esses dias ao depedir-me com um beijo na testa te dizia ao ouvido "gosto muito de ti".
O D. fez quatro anos, e teve uma festinha na escola. Não havia espirito para mais, afinal tu não estavas lá em casa para comemorar connosco.
E no dia imediatamente a seguir ao aniversário do D., o telefone tocou e tinha o teu nome escrito. tremi, meu Deus o que eu tremi. Eu sabia que não podias ser tu do outro lado. (Nunca mais vais ser tu do outro lado)
E não eras... era o hospital que queria falar connosco.
E pronto, desde este tefonema até te estar a ver deitada numa maca na morgue foi um instante. Estavas quente, como se estivesses viva, serena, e eu que pensava que os mortos estavam sempre gelados.

Despedi-me de ti, mas desta vez sussurei-te ao ouvido "avó, faz uma boa viagem e vai devagarinho" e esta frase não me sai da cabeça. Será que fiz bem em perdir-te para ires devagarinho? Eu nem sei porque te pedi isso, tu andavas sempre devagarinho e com bengala, talvez por isso...
Querida avó, esqueçe a parte do devagarinho, mas faz uma boa viagem e lá em cima, espero que juntes à minha outra avó que também amo tanto e que tantas saudades tenho, e que as duas iluminem o nosso caminho. Que sejam os nossos anjos da guarda.

Um beijo daqui até aí querida avó!

1 comentário:

Carla Santos Alves disse...

Fizeste-me chorar...que rica avó que tu tiveste.

Eu quero ser uma avó assim, quer que um dia os meus netos escrevam assim sobre mim.

A tua avó é agora uma estrela a brilhar para ti!
Beijinho doce.