sexta-feira, setembro 16, 2005

um ano atrás, recebi um telefonema. Era a minha irmã, o meu avô tinha sido hospitalizado de urgência.
Entrei em pânico. Era o meu aniversário e pela primeira vez na vida não ia estar com o meu avô.
O meu avô que sempre me pareceu imortal, de repente ficou frágil e foi hospitalizado. O meu avô que não sabe o que é fumar, porque nunca pôs um cigarro na boca, não sabe o que é álcool porque nunca bebeu bebidas alcoólicas, o meu avô que sempre teve cuidado com a alimentação…. Não, aquele avô era o mais saudável de todos nós, aquilo era impossível..
Não consegui passar o dia sem o ver, eu tinha de o vir ver. Pedi ao Gu para tratar do jantar, pois éramos 13 a jantar (afinal éramos só 12, o meu avô não ia). Já não tinha vontade de fazer jantar nenhum, mas era tarde para desmarcar.
Corri para o hospital. O meu avô estava nos cuidados intensivos, onde só uma pessoa podia entrar. Na sala de espera éramos 3, a minha avó, a minha mãe e eu. Todas queríamos vê-lo, mas só uma o podia fazer. Foi uma escolha difícil. As entradas eram mesmo rigorosas, faziam a chamada para uma sala e depois éramos conduzidos até ao doente, mas só uma pessoa. Graças à minha mãe, conseguimos entrar as três, eu com a minha avó e depois a minha mãe.
O meu avô estava bem. “Ralhou” logo comigo porque eu não devia estar ali, que tinha imensas pessoas em casa a jantar. Claro que disse logo, que devíamos era ir todas para casa jantar e fazer como se ele lá estivesse. Não desatei a chorar porque provavelmente não sabia, ainda, da gravidade da situação.
O mês que se seguiu foi o pior mês da minha vida. Fui preparada para “o pior”, como o médico disse…. Nas visitas que lhe fazia, tentava ao máximo animá-lo, aproveitar todos os bocadinhos, mostrar-lhe o quanto o amava…. Até então nunca tinha percebido que muitas vezes não dizemos nem mostramos o nosso amor às pessoas que amamos.
Em cada final de visita, saia do hospital com vontade de chorar, gritar, sei lá mais o quem…. Nunca sabia se tinha sido a última vez.
Pensa em como iria ser o nosso natal, e os outros dias especiais… pensava na minha avó, que já tinha perdido um filho…pensava nele. Tinha tido tanto cuidado consigo e estava doente… Vinham – me à memoria todos os nossos momentos…
Aproximei-me de Deus. Pedia-lhe insistentemente só mais um bocadinho… mais um natal, mais um ano, só mais uma oportunidade de dizer ao meu avô quanto o amo.
E assim foi.
O meu avô, conseguiu curar-se, e um ano depois continua a meu lado.

E hoje vai lá estar, ao meu lado.

Isto tudo serviu-me de lição. Aprendi a dar mais valor a todos os que me rodeiam, especialmente os mais velhos, principalmente os meus queridos avós… Aprendi que eles não são imortais como eu sempre julguei. Aprendi a dizer-lhes que os amo, e amo muito.

No natal, escrevi uma carta ao meu avô. Nessa carta descrevi todos os meus sentimentos. Disse-lhe aquilo que nunca lhe tinha dito. Acho que foi a melhor prenda que alguma vez ofereci a alguém.

(No natal passado passei toda a missa do galo a agradecer a Deus o facto de os ter a todos ali ao meu lado.)

Ainda agora, enquanto relembro isto, não consigo evitar de chorar…

3 comentários:

Anónimo disse...

Fiquei sem palavras, quero dizer-te alguma coisa e não sei o que deva dizer. Digo que te percebo perfeitamente, que a perda é o pior sentimento que existe no mundo...não fomos educados para o aceitar.
Mas como hoje é um dia muito especial, em vez de estarmos aqui a falar de tristezas vamos levantar essa moral e fazer um grande sorriso de PARABÉNS! Muitos Parabéns amiga, que faças muitos muitos mais e que estejamos todos aqui ao teu lado para os comemorar.

bree disse...

Comovi-me com o teu relato, pois passei exactamente o mesmo com os meus avós maternos, que me criaram. Em 98 foi a minha avó e em 2003 foi o meu avô. A diferença entre nós é q os meus finais não foram tão felizes como o teu... Aproveita bem. Bjs.

Xana disse...

Um beijinho grande!