quarta-feira, agosto 24, 2005

Crescer

Dou por mim a apreciar e a viver intensamente os jantares e serões em família.
Se há 10 anos atrás, alguém me dissesse que eu iria passar serões à conversa com os meus pais, e ia adorar, claro que não ia acreditar. Há 10 anos atrás (e talvez mais), queria sair com os amigos, jantaradas, discotecas, borgas… Lembro-me do primeiro amigo que tirou a carta, de irmos jantar fora e não serem os pais a levarem-nos, sentíamo-nos muito adultos….
Pedir para sair à noite, pedidos alternados entre o pai e a mãe, as horas para chegar a casa que eram sempre muito cedo (para nós claro).

Dou por mim, a observar a minha família à mesa, observo-os minuciosamente, vejo como o tempo passou, umas rugas a mais, o corpo que mudou, os cabelos brancos …. Descubro coisas nas nossas conversas, que nunca me passaram pela cabeça. Muitos mitos desfazem-se na minha cabeça, muitos deles até fico com pena de descobrir a verdade.

Como a história da minha Madrinha que casou e passado 4 meses teve a minha prima. E eu nunca desconfiei que já estava grávida quando casou, nem nunca tinha feito as contas… para mim, na altura, era normal casar e ter filhos, nunca desconfiei que ela tinha apenas 19 anos e que casou à pressa porque estava grávida. Já era crescida quando alguém me chamou a atenção para o facto e foi aí que tomei conhecimento da realidade.

Ou a outra história, quando a minha mãe estava grávida da minha irmã. Nunca soube se ia ter uma mana ou um mano. Nunca desconfiei, apesar de em casa só se discutirem nomes de raparigas para o novo bebé. No dia que a minha mãe entrou na maternidade para ter a minha irmã, por coincidência, estava lá outra mulher com o mesmo nome de solteira da minha mãe. Quando telefonávamos para a maternidade, diziam-nos,
“Já nasceu, é um menino”.
A minha avó inconformada, dizia que era impossível e passou a tarde a ligar para a maternidade fazendo-se passar por mãe, tia, irmã da minha mãe, levando sempre a mesma resposta, e ela dizendo sempre que era impossível, tinha de ser uma menina. Sempre pensei que a minha avó tinha um dom especial para olhar para as barrigas das grávidas e adivinhar o sexo do bebé. Descobri há pouco tempo, num jantar que afinal a minha mãe sempre soube que o bebé era uma rapariga… há tanto tempo e só agora sei destas coisas…engraçado no mínimo.

Sei que deve ser muito difícil para um pai e para uma mãe, admitir que os filhos cresceram e são adultos. Acho que com os meus pais, não foi um processo gradual, foi repentino, pelo menos com a minha mãe. Acho que um dia ela acordou, olhou para as filhas e assustou-se, porque elas estavam grandes, eram adultas…. Dou por mim naqueles jantares a ter conversas que nunca tivemos, futebol, politica, vida, trabalho, futuro, previsões, amor, encontros, desencontros, histórias tristes, histórias felizes, morte, vida, os que já foram, os que ainda cá estão, sentimentos profundos e perdidos….
Olho para os nossos encontros em família, e dou por mim a entender (sem perceber qual foi o dia exacto, acho que para estas coisas não existe exactidão) que os meus pais perceberem que as filhas já são adultas, deixaram de ser crianças…
No caminho para casa, depois de mais um jantar em família, dou por mim a aguardar o próximo com alguma ansiedade… e apercebo-me da realidade, passei a maior parte do tempo a tentar sentir-me adulta e a tentar mostrar aos meus pais que era adulta, e agora que eles já me vêm como adulta, dou por mim a desejar voltar atrás para viver mais um daqueles momentos do passado….

2 comentários:

Anónimo disse...

Acho que deve de ser tão bom....eu ainda não consegui fazer isso com os meus pais. Acreditas que o meu Pai ainda não foi almoçar ou jantar a minha casa, ou está a trabalhar, ou tem um aniversário de um amigo, ou é a sociedade... ainda nunca deu.....é verdade que entretanto também deixei de o convidar, digo mesmo à minha mãe, vem quem pode vir. Com os pais do Andro, principalmente a mãe, não tem nada a ver comigo, por isso é mais complicado.
Tenho muita pena de não ser assim, mas paciência, tenho esperança que com os meus pais, quando a situação do trabalho acalmar já possamos fazer isso muitas e muitas vezes!

Eu disse...

Cris,

de certeza que um dia as coisas vão acalmar.
Nunca pensei estar com os meus pais como tenho estado... as coisas mudam...

beijocas